2018, foi o ano mais quente dos oceanos


De acordo com uma pesquisa publicada a 16 de janeiro na Advances in Atmospheric Sciences, os oceanos estão agora mais quentes do que em qualquer outro período desde que começamos começaram a monitorizar sistematicamente as suas temperaturas. Os oceanos absorveram mais de 90% do calor provocado pelos gases de efeito estufa, retardando o aquecimento da atmosfera, causando, no entanto, inúmeras mudanças indesejadas no clima do planeta.




Os oceanos podem abrigar uma surpresa desagradável



As alterações na subida da temperatura do oceano, mesmo que ligeiras, podem ter impactos dramáticos. Investigações recentes demonstram que oceanos mais quentes tornam as ondas mais fortes. Águas mais quentes provocam tempestades mais fortes, aumentando os danos infligidos pelos furacões e pelas tempestades tropicais. O calor adicional prejudica os habitats dos corais e pressiona o ambiente marinho. Outro estudo recente sugere que o gelo na Antártica está a derreter cerca de seis vezes mais rápido do que nos anos 80 do seculo passado. Este aumento deve-se em parte ao aquecimento das águas que rodeiam o continente.

"Os oceanos são o melhor termómetro que temos do planeta", diz Zeke Hausfather, cientista de energia e clima da Universidade da Califórnia, em Berkeley, que usou os dados sobre o aquecimento do oceano, publicados na análise da revista Science. "Podemos observar de forma inequívoca o aquecimento global nos registos oceânicos".
No início do séc. XIX, os cientistas já suspeitavam que a adição de dióxido de carbono à atmosfera poderia provocar a subida das temperaturas do ar, em todo o planeta. Na década de 1960, data em que começaram a monitorizar cuidadosamente as temperaturas do ar e os níveis de dióxido de carbono em todo o mundo, confirmou-se essas previsões.

No entanto, a atmosfera não parecia estar a aquecer tanto quanto os cálculos dos estudos indicavam. Para onde estaria a ir o calor extra?
Alguns oceanógrafos suspeitavam que o calor estava a ser absorvido pelos oceanos, mas medir esse calor era muito mais difícil do que medir a temperatura do ar. Apesar dos navios de pesquisa, que atravessam o oceano, mergulharem ocasionalmente uma sonda na água para testarem a temperatura, os dados recolhidos eram apenas sinais mínimos na vasta extensão do mar.

Assim sendo, os cientistas reuniram todos os dados que conseguiram encontrar, incluindo observações de navios comerciais, dados navais e registos históricos. Quando todos os dados foram compilados, os cientistas perceberam que os oceanos estavam, de facto, a atuar como um enorme amortecedor para o sistema climático, agindo como uma almofada gigante, suavizando os efeitos das alterações climáticas.


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Na última década, graças a uma nova ferramenta, as medições de calor no oceano foram aperfeiçoadas. Cerca de 3 mil sensores autónomos, com o nome de flutuadores Argo, foram espalhados pelo oceano. Os flutuadores registam regularmente a temperatura da água acima dos 2 mil metros e melhoraram consideravelmente a qualidade dos dados com que os cientistas precisam de trabalhar para essas estimativas.

Agora, graças a estas medições, não existem dúvidas de que os oceanos estão a absorver cerca de 90% do calor provocado pelas nossas emissões de carbono na atmosfera. A estimativa mais atualizada, publicada recentemente, fixa esse valor nos 93%. Se todo o calor absorvido pelo oceano desde 1955 fosse subitamente adicionado à atmosfera, a temperatura do ar aumentaria em mais de 60 graus centígrados.

Por outras palavras, os oceanos estão a agir como amortecedores térmicos gigantes, protegendo-nos de todo o calor diretamente provocado pelas alterações climáticas. Mas o calor não está a desaparecer.
 Em 2018, toda a camada superior do oceano, a partir da superfície até aos 2 mil metros de profundidade, estava mais quente do que nunca, pouco mais de um décimo de grau centígrado acima da média a longo prazo. Esta pequena alteração foi suficiente para fazer subir os níveis da água do mar em cerca de 3 milímetros, pois a água mais quente ocupa mais espaço.
Mas 2018 encerra quase três décadas de aquecimento suave e consistente, cujos resultados acumulados podem agora ser sentidos com mais intensidade.


"Numa base diária, o aquecimento parece pequeno, mas vai aumentando com o tempo", diz Kevin Trenberth, cientista do clima do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica do Colorado, e autor do relatório. A energia extra que se acumula na atmosfera infiltra-se lentamente no oceano “e é por isso que continuamos a bater recordes ano após ano”, diz.
Mais alarmante ainda, nas últimas décadas, os oceanos aqueceram quase 40% mais depressa do que em meados do século passado, dizem os autores da análise publicada na Science.





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Laure Zanna, cientista do clima da Universidade de Oxford, que inventariou recentemente a crescente absorção de calor extra no oceano, diz “Desde a Revolução Industrial, a quantidade de energia extra aprisionada no oceano devido às nossas emissões de gases de estufa é cerca de mil vezes maior do que a quantidade de energia usada pelos humanos anualmente em todo o mundo”.
Não existe um limite para a quantidade de calor extra que os oceanos conseguem absorver da atmosfera. Os oceanos são enormes e profundos, e o calor que absorve agora ficará preso no sistema durante centenas ou até mesmo milhares de anos. Um estudo publicado na revista Science, no início de janeiro, demonstra queuma fase fria que ocorreu há centenas de anos atrás no Atlântico Norte ainda está a flutuar pelos oceanos de todo o mundo.

Portanto, as decisões que tomamos agora vão afetar-nos durante muito tempo, diz Susan Wijffels, oceanógrafa do Instituto Oceanográfico Woods Hole, em Cape Cod. “A capacidade do oceano profundo absorver calor nesta escala de tempo enorme é uma coisa boa. Mas também submete o sistema a um compromisso”, diz. Por isso, mesmo que parássemos de emitir gases de efeito estufa amanhã, o oceano continuará a aquecer durante séculos, e levará ainda mais tempo a dissipar o calor extra.
"Cada molécula de dióxido de carbono que não colocamos agora na atmosfera pode poupar-nos de um potencial aquecimento no futuro", diz. "Isto passa realmente a mensagem da necessidade de reduzirmos as emissões de forma imediata, tanto quanto pudermos."




Fonte//NationalGeografic

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